Robert Frank e a operação de montagem no campo do olhar (2009)

Esfera Pública, Imagem, Publicações

Dissertação de mestrado defendida no CEART/UDESC na Linha de Pesquisa de História e Teoria da Arte, em 2009.

Para baixar a dissertação: http://www.tede.udesc.br/handle/tede/838

RESUMO

Na série Polaroids, o fotógrafo Robert Frank cria situações encenadas e manipula a superfície bidimensional em condição de pós-produção, construindo imagens com fronteiras imprecisas onde se destacam vazios, palavras, gestos pictóricos, apropriações e encenações. Emergindo por recursos de montagem, tais procedimentos colocam em questão certas referências intrínsecas ao campo da fotografia e da imagem permitindo reconhecer um território onde tanto a fatura como as noções operatórias que se afirmam como fundamento poético se implicam e se rebatem, interrogam e perturbam em relação ao campo do olhar. Na interlocução da história e teoria da arte com a psicanálise e a filosofia, encontramos a possibilidade de problematizar os procedimentos deste trabalho a fim de elaborar as questões que dele ressoam sem, entretanto, reduzir seus termos. No primeiro capítulo, investigamos o potencial de linguagem do estrangeiro como uma condição da imagem, que se identifica, tanto no campo fotográfico como imagético, como anulador de fronteiras e instaurador de novos parâmetros propositivos. A inquietante estranheza freudiana articulada com as infinitas possibilidades da linguagem artística abre campo para pensar a série Polaroids como imagem-acontecimento. No segundo capítulo, analisamos a relação entre o visível e o dizível a partir dos aspectos renitentes da operação de montagem ao longo da série, entre os quais, a lógica figural nos sonhos e na retícula, a relação entre imagem e palavra, a repetição como diferença e o gesto que re-significa o instante de ver. No terceiro capítulo, analisamos o rebatimento destes procedimentos plásticos no campo do visual. Do processo de instauração da visualidade do objeto artístico, alcançamos a noção de irrepresentável como encontro com o Real, e concluímos com a estrutura do campo escópico formulada por Jacques Lacan, e cuja orientação na teoria da arte é desenvolvida por Georges Didi-Huberman, onde o olhar cumpre a função de causar o sujeito em seu desejo.

PALAVRAS-CHAVE: Robert Frank, fotografia, operação de montagem, campo do olhar.

SUMÁRIO

Introdução

Capítulo I

O ESTRANGEIRO

1. O estrangeiro como uma condição da imagem

New Years Day ; a linguagem como interrogação; do vazio inicial aos novos territórios da imagem; o estranho na concepção freudiana; imagem autônoma/ imagem sujeito; a inquietante estranheza e a imagem aurática; Roots ; expatriamento e sentido de origem; cartografias sentimentais e atravessamento.

2. A fotografia e suas implicações

Monuments for my daughter Andrea;  a fotografia é o que é feito dela; olhar fora verdentro: moebius  e a topologia de borda; o termo extímio em Lacan; o paradigma da fotografia e a caixa-preta; Flusser e a filosofia da fotografia; Baudrillard e o princípio de realidade; a irrealização inerente ao fotográfico; a verdadeira imagem.

3. Imagem-acontecimento ou a invenção do próprio rosto

No projector could do justice…;  a noção de performance  e a enunciação no presente; por um novo cálculo na arte; tempo cronológico e Aion; a identidade-infinita como devir; 4 AM, Make Love to Me;  Weston e a fotografia modernista norte-americana; Barthes e as noções de prática significante e Texto; a imagem-rosto e o plano de imanência deleuziano; a criação artística como a relação entre atual x virtual; Boston, March 20; jogo ideal e acontecimento.

Capítulo II

VISÍVEL X DIZÍVEL

1. A lógica figural nos sonhos e na retícula

End Of Dream ; o campo plástico através da lógica figural dos sonhos; imagem dialética, sintoma e rememoração; BonJour Maestro ; sonho dentro do sonho; por uma teoria do detalhe; repetição e atuação; Studio, Mabou ; retícula.

2. Palavra e imagem

 Maurice Blanchot: Falar não é ver; Blind, Love, Faith  – New Years Day  – Words ; palavra escrita, inscrita e sobredeterminada; a imagem na ordem do fascínio; campo verbo-visual como território heterogêneo.

3. A repetição que instaura a diferença

Andrea;  o noema da fotografia de Barthes diante da repetição; repetir não é representar; Gilles Deleuze: a repetição do mesmo e a repetição que carrega sua diferença; repetição como potência de linguagem.

4. O gesto que desempata

A problemática da pintura em “A obra-prima desconhecida”, de Honoré De Balzac; Mabou 1979;  gesto final como operação de desempate; carne da pintura, encarnação e colorido-sintoma em “La pintura encarnada” , de Georges Didi-Huberman; o gesto como instante terminal no conceito Lacaniano; Mabou 1994 ; gesto e repetição.

Capítulo III

VISÍVEL X VISUAL

1. Jogo anadiômeno e a instauração da visualidade

Andrea;  alteração, da coisa à sua imagem; Sigmund Freud, Fort-da  e o nascimento para a linguagem; o papel da falta no jogo anadiômeno; Tony Smith e o relato de sua criação; dialética visual e objeto artístico.

2. A estética da tiquê e o irrepresentável

Sick of good by´s;  os significantes no inconsciente Lacaniano; autômaton  e tiquê  no encontro com o Real; o sem-sentido da tiquê e o non-sense  do surrealismo; a estética da tiquê .

3. O jogo do olhar

Pour la fille;  Merleau-Ponty e a carne do visível; o campo escópico em Lacan; olho como órgão – olhar como função; a inelutável cisão do ver em Didi-Huberman; Picture for Women  de Jeff Wall e função do olhar; objeto a  e cisão diante da imagem.

Considerações

Andrea, Mabou, 1977;  o jogo do olhar no plano da imagem; a operação de montagem como reincidência na série; sobre os aspectos tautológicos e o espectador; considerações; Winter footage, films stills.

Referências bibliográficas